Cabelos desalinhados, Débora esfrega os olhos fundos, sonolentos. Busca o roupão na cadeira ao lado da cama, e se debruça novamente sobre o travesseiro vazio que repousa ao seu lado.
No silêncio da manhã, seu olhar repousa no fio de luz que entra pela fresta da janela. Como uma adaga, ele penetra no recôndito de seus pensamentos noturnos e ela se envolve nos lençóis à procura de um abrigo, um consolo.
Preciso encontrar a saída, me perdi novamente nessa última tentativa; e agora? Tantos obstáculos a vencer, me sinto tão incapaz de achar um novo caminho assim, sozinha. Onde está você?
Ouço, lá no fundo, sua voz que me diz para seguir em frente; tento, mas fracasso. E vou me embrenhando cada vez mais nesse labirinto. Me canso, desanimo, tento tomar fôlego e recomeçar. Procuro apoio, um chão que me abrigue, se é que ainda me resta algum chão nessa busca infindável, e me pergunto: por que não consigo? Tantos conseguem achar a saída, por que não eu?
Já procurei traçar um mapa com os caminhos que percorri sem sucesso. Um guia para me orientar na procura de um novo rumo, mas quando percebo estou pegando atalhos que me levam de volta ao mesmo lugar. Parece um vício, estou viciada nesse percurso. As mesmas pistas, as mesmas pedras, barreiras, com algumas variações tudo se repete e não encontro a saída, ando em círculos.
Me sinto aprisionada, cativa desse labirinto, condenada a uma busca sem fim. Não consigo te ver, mas ainda escuto baixinho sua voz me dizendo para seguir sem olhar para trás. Mas como seguir, se tudo me traz de volta ao ponto de sua partida?
O despertador toca e Débora se levanta, conformada, para enfrentar mais uma reunião do grupo de terapia do luto. Ao abrir a porta de casa, se lembra de uma estrofe do tema de Lisbela e o Prisioneiro...
Agora, que faço eu da vida sem você?Você não me ensinou a te esquecerVocê só me ensinou a te quererE te querendo eu vou tentando te encontrar
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