Quem já foi criança há de se lembrar dessa divertida brincadeira, ainda popular nas escolas. Cadeiras são colocadas em número suficiente para os participantes menos um. A turma vai andando em volta, ao ritmo de uma música, e o objetivo é conseguir sentar assim que ela pare. Aquele que ficar sem cadeira sai do jogo. As cadeiras vão diminuindo até que reste uma só para a disputa final, em que será definido o vencedor.
O potencial de sucesso, nessa brincadeira, é medido pela presença de algumas habilidades: coordenação motora suficiente para agarrar uma cadeira vazia na hora certa; noção espacial para calcular onde se posicionar de forma a conseguir se sentar rapidamente; atenção ao menor sinal de que a música parou. Vence essa corrida o mais esperto e rápido, aquele que conseguir driblar os outros e tomar posse de um assento.
Assim como na Dança das Cadeiras, na corrida pela vida vence quem conseguir ser o mais vigoroso, ágil e competitivo, de forma a ultrapassar obstáculos e atingir o alvo, deixando os rivais para trás.
Comparação arriscada, principalmente por ser essa uma lógica bastante contestável. Posso afirmar, porém, que existe uma corrente antropológica amparando a tese de que conquistar a primeira posição na roleta da vida exige aptidão para o sucesso, e implica na eliminação dos concorrentes.
Antes que o leitor desista de continuar a leitura, acho melhor esclarecer a que corrida pela vida estou me referindo.
Trata-se da disputa pela fertilização de um óvulo, a que cerca de 300 milhões de espermatozoides se candidatam ao mesmo tempo. Nadam freneticamente em direção ao útero, numa corrida olímpica pela fecundação que terá, a princípio, somente um vencedor, capaz de gerar um novo ser humano.
Durante muitos anos, a medicina acreditou que a chave do sucesso para esse feito dependia da rapidez dos candidatos – quem “se sentasse na cadeira” primeiro seria o vencedor.
Estudos publicados na revista científica The Royal Society na década de noventa, porém, jogaram por terra essa teoria. Descobriram que o vencedor não é necessariamente o primeiro espermatozoide a chegar ao óvulo, mas o que for selecionado pela célula reprodutora feminina, por meio de quimioatraentes.
Mulheres dado uma reviravolta total, pois a escolha do eleito para a fecundação muda de protagonista: é uma seleção feita pelo óvulo, não pelo espermatozoide.
Fica aqui a pergunta: Será que vamos descobrir que as cadeiras também são dotadas de quimioatraentes e escolhem quem vai se sentar?
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