O final de semana prometia ser intenso. Iria me reunir com Roberto, Samanta e Maritza para decidirmos sobre as comemorações de Natal em família. Achei por bem convidá-los para a casa de praia, assim teria mais controle sobre a situação.
Samanta foi a primeira a chegar, trazendo de quebra a gata Fênix — uma vira-latas preta de olhos verdes ameaçadores — mesmo sabendo que sou asmático. Eu a recebi com um largo sorriso e não disse uma palavra sobre o felino. Precisava de tempo para pensar em como resolver o incômodo.
Roberto chegou ostentando seu Land Rover, descarregou uma caixa de espumante e foi logo dizendo que queria um final de semana em grande estilo. Eu sabia que ele estava prestes a perder toda a mordomia, por causa da mudança de governo; que ficaria com uma mão na frente, outra atrás. Não pude deixar de dar uma agulhada. Dei uma tapinha nas suas costas e comentei: “Nada como ter parentes abonados, né Roberto?”
O quarteto fantástico ficou completo com a chegada de Maritza. Ela veio com seu furgãozinho de trabalho, e foi logo se desculpando: “Não tive tempo de retirar os equipamentos de taxidermia do carro”. Soltou uma sonora gargalhada, e então disse: “Tranquilo, pessoal Não pretendo utilizar meus instrumentos por esses dias. Imagina que vou empalhar a família!”
Todos riram amarelo, mas não estranharam. Ela tinha uma personalidade um tanto bizarra. Abri o meu melhor sorriso; o que ela disse me deu uma ideia incrível.
Os acordos a respeito do Natal transcorreram durante o jantar caprichado que eu tinha preparado. O clima era de deleite com a minha generosidade da hospedagem. De certa forma, me envaidecia a liderança que tinha sobre a família, apesar de achá-los muito cansativos.
Então, a angústia me tomou. Fênix, sentada em cima da poltrona que eu mais gostava, olhava fixo para mim.
As taças de Prosecco eram entornadas rapidamente, e o teor alcoólico do grupo foi aumentando. Quando percebi que Maritza estava fora de seu autocontrole, a chamei de lado. Precisava me aproveitar de sua fraqueza.
A convenci de que ninguém notaria o sumiço da gata, já que estavam todos bêbados. “Veja bem, ela seria um exemplar magnífico para sua coleção.” O plano era trocar a água dela por bebida batizada com um pozinho que na certa a apagaria. “Vamos escondê-la no furgão até amanhã e dizer que ela fugiu.” Em resposta, Maritza gargalhou.
Fênix não renasceu das cinzas.
Sensacional!!!!