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Amores em estado líquido

  • Foto do escritor: Ana Helena Reis
    Ana Helena Reis
  • 6 de nov.
  • 2 min de leitura

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“Situationship” é um daqueles termos que nasceram na era digital e rapidamente ganharam espaço no vocabulário afetivo moderno. Define relações em que há conexão emocional, intimidade e presença — mas não necessariamente planos, promessas ou rótulos. Algo entre o amor e o quase.


Com o crescimento dos aplicativos de relacionamento e a cultura do match, essas ligações se tornaram cada vez mais comuns. Duas pessoas se encontram, trocam confidências, compartilham o fim de semana — mas evitam dar nome ao que sentem. Há afeto, sim, mas também uma certa hesitação, como se o compromisso pesasse mais do que o prazer da companhia.


O sociólogo Zygmunt Bauman talvez explicasse isso pela modernidade líquida: vivemos tempos em que tudo escorre — carreiras, planos, certezas, vínculos. As relações se tornaram flexíveis, voláteis e, muitas vezes, descartáveis. No campo amoroso, ele chamou essa condição de amor líquido, aquele que promete liberdade, mas às vezes traz a vertigem da instabilidade.


Curiosamente, o situationship vem encantando dois extremos de gerações: os muito jovens, que desejam experimentar o amor sem moldes, e os que já viveram relações sólidas e agora buscam algo mais leve, menos estruturado — talvez um respiro entre histórias.


Mas viver um amor líquido exige preparo. Para alguns, ele é sinônimo de autonomia e honestidade emocional. Para outros, é um terreno movediço que desperta insegurança e ansiedade, esse sentimento de estar sempre à beira de algo que nunca se concretiza.


Talvez o grande dilema seja esse: queremos amores leves, mas tememos o vazio que a leveza pode deixar. Como já cantou Gilberto Gil, é preciso ter corpo e alma sãos para se aventurar nessas águas.


E, como lembrou Fernando Pessoa "Para viver a dois, antes, é necessário ser um".


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Membro desconhecido
20 de mar. de 2024

Relações fluídas, um texto inteligente, leve e profundo. Palmas para a autora Ana Helena Reis, nem que seja com os olhos úmidos. G.P.


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