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Tempo, tempo, tempo

[...] “E quando eu tiver saído Para fora do teu círculo Tempo, tempo, tempo, tempo Não serei nem terás sido

Essa estrofe da música de Caetano Veloso faz pensar na reviravolta que a pandemia pelo SARS-CoV2 causou na percepção de tempo. Para algumas pessoas pode parecer que não, mas em maior ou menor grau todos nós mudamos alguma coisa na nossa relação com o tempo.


Tenho a sensação de que saímos para fora do círculo a que estávamos escravizados, para encarar as horas como um espaço de maior liberdade, em que podemos construir algo mais flexível. Não temos mais que nos pautar estritamente pelas horas de dormir ou de acordar, e sim por um amanhecer e anoitecer cíclico, a que o nosso relógio biológico responde.


Os dias se sucedem de forma mais fluida, sem uma demarcação estrita entre semana e final de semana e, assim, as atividades podem ser distribuídas mais livremente de acordo com o que nos parece mais adequado à nossa disposição do momento.


Tempo para ler, escrever, pensar, trabalhar, cozinhar, caminhar e amar podem vir embaralhados, sem uma predeterminação de momento para cada um. Tempos que não tem hora para acontecer.


A pressa mudou de sentido, de significado. Não existe mais uma pressa para fazer, e sim uma calma para viver. Pequenos prazeres, pequenos espaços, pequenos desejos, pequenas angústias. Tudo em outra dimensão.


Acredito que o sentido da temporalidade da vida se tornou tão forte, que passamos a viver sem contar o tempo. Fomos impulsionados para fora do seu círculo. ...Tempo, tempo, tempo, tempo, não serei nem terás sido.

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