- Vamos combinar um café um dia desses?
- Lógico, saudades de você, vamos marcar sim!
Quem nunca teve esse tipo de diálogo com alguém que não encontra há décadas e, por acaso, topa em um supermercado ou em uma rede social?
O desfecho, e falo por experiência própria, pode tomar três rumos diferentes:
Um primeiro, e posso dizer que é bem comum, é o convite morrer por ali. Nenhuma das partes toma a iniciativa de entrar em contato e o tempo vai passando. Quanto mais o tempo passa, mais difícil é o encontro se concretizar. O resultado é que de ambos os lados fica um pouco de constrangimento e receio de, por acaso, encontrar novamente a pessoa e não ter marcado o tal encontro. E a gente se pergunta: por que parou por ali? Porque faltou vontade verdadeira de rever a pessoa, ou porque seria legal, talvez, mas deu preguiça, ou então por temer que a conversa não fosse para frente, ou, ou...o fato é que, na minha opinião, a proposta foi feita num impulso, mais por delicadeza do que por uma vontade real de retomar algo do passado.
Um segundo rumo da proposta de um cafezinho é ele se realizar e ser desastroso. A inciativa é tomada pela pessoa mais decidida, ou com maior vontade de reatar a amizade. Passado o grande abraço, a conversa vai para a atualização sobre a família, com troca de fotos dos filhos ou netos, do marido, se existente, ou do finado. Depois vem a clássica pergunta sobre o que estão fazendo da vida, o trabalho, a casa, e daí... o assunto esgotou. Nada mais a trocar além disso. Vem uma certa nostalgia, uma sensação de estranhamento, uma falta de sintonia total, que deixa no ar a pergunta: será que tínhamos, no passado, alguma coisa em comum? Alegando algum compromisso, uma das duas toma a iniciativa de encerar o café por ali. Se despedem meio sem graça, com uma promessa polida de reencontro, já sabendo de antemão que ele não vai se concretizar. Beijinhos e adeus com alívio.
E tem a terceira via, que é a da surpresa e do prazer de um reencontro verdadeiro. Aquele em que a gente sente como se nunca tivesse havido um intervalo na amizade. Aquele em que os assuntos são tantos que não se esgotam no primeiro café, que se transforma em Happy Hour, jantares, passeios, momentos em que a conversa flui novamente, sem nenhum esforço. Encontros que resgatam a afinidade natural entre essas duas pessoas, e a amizade volta com ainda mais sabor.
Creio que esse terceiro rumo do reencontro é o menos comum. Andei pensado sobre isso e acabei levantando uma hipótese: talvez o problema esteja na proposta do cafezinho. Ele é vago e impessoal, beirando a um encontro profissional, uma conversa formal que se pode ter com um advogado, um cliente, algo bem rapidinho e descompromissado. Permite, assim, respostas igualmente vagas e pró-forma.
Como evitar isso? Talvez o caminho seja trocar por uma pergunta que permitisse uma "triagem" logo de início, ou seja - já colocar as cartas na mesa, com um convite que possibilite uma saída honrosa da situação. No meu caso, do tipo: vamos sair para tomar um vinho e papear essa semana? Para cada um dos rumos acima descritos, acredito que as respostas poderiam ser:
- Obrigada, mas estou com as noites tomadas, sabe? Tenho que acompanhar meu marido em compromissos do trabalho. (convite morreu por aqui)
- Gostaria muito, mas não costumo beber, e não tenho saído à noite, pena! (sem afinidade, melhor que o convite não vá para frente)
- Sim, claro, amanhã? (oba!!)
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