No balaio de Zeferina, o relicário de uma velha ribeirinha.
Vestido branco rendado, do casório encovado.
Um retrato amarelado, dos oito filhos criados.
Espelho e pente sem dente, cabelo entrelaçado.
Uma rede de dormir, refúgio no alagado.
Fumo de rolo torcido, bocado meio mascado.
Mandioca do roçado, pra vender no mercado.
Açaí, buriti, vai beiju, vai tucupi.
Faca embainhada, garantia na emboscada.
Amarrilho trançado na cabeça, balaio estribado.
Segue a velha Zeferina, sua caminhada.
Os pés cansados, de tanta vida trilhada.
O rosto encarquilhado, pelo sol castigado.
De seu, somente o balaio, no dorso assentado.
Canoa, igarapé, seu pouso no barrote.
O trinado do Cricrió, o canto encantado do Uirapuru.
Um voejar de cigarras, no lusco-fusco do entardecer.
Uma Coruja Caburé, no alto um Tucanuçú.
Tempo anunciado de se recolher.
No seu balaio encantado se envolver,
Para um outro dia ver nascer.
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