Sempre é tarde quando se pede perdão. Tarde demais para apagar o que não devia ter sido feito, falado, sentido, e até pensado, mas que explodiu algumas vezes em uma súbita golfada, outras em uma enxurro daquilo que fermentava há tempos.
E aí, a dor é sufocante, a vergonha chega a ser desoladora. Saber que o único caminho é pedir perdão consome as entranhas e cutuca insistente, como um alfinete esquecido na roupa.
Na tentativa de minorar a culpa, a busca de alguma justificativa que abrande o remorso, acalme o coração.
Mas eu não sabia que você sabia Que a vida é tão boa
Não sabia, não queria, não, não...a negação brota e floresce com a proposta de um bálsamo para a dor do erro. Escusa que se repete como um mantra e ressoa, na esperança da complacência divina, humana, ou da própria consciência. Há perdão para quem não percebe a grandeza da vida?
Se é tarde, me perdoa
Eu cheguei mentindo
Eu cheguei partindo Eu cheguei à-toa
Ninguém chega à toa nessa vida. A chegada é uma porta que se abre para qualquer direção. Chegar partindo é chegar mentindo para si mesmo, como se nada houvesse entre o nascente e o poente. É como quebrar a bússola que orienta o caminho da existência, para que ela não mostre os desencantos do amor ao Sul, os banhos de lágrimas ao Leste, mas também o quentura do amor ao sol do Leste. Somente o ponto Oeste da redentora despedida.
Em cima da mesa, um bilhete dobrado. Maria sentou-se para ler, ainda atordoada pela partida de João. Chegou como quem chega do nada, nunca esteve totalmente presente na relação, e do nada se afastou. A que veio então? O bilhete assim dizia:
Se é tarde, me perdoa
Trago desencantos De amores tantos pela madrugada
Se é tarde me perdoa Vinha só cansado
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Tema de inspiração: Carlos Lyra / Ronaldo Bôscoli: Se é tarde, me perdoa
Adorei. Tinha escrito um longo comentario porem essa palavrinha descreve perfeitamente o sentimento deste leitor. GP