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Enquanto houver sol

  • Foto do escritor: Ana Helena Reis
    Ana Helena Reis
  • 6 de out.
  • 2 min de leitura

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“Resiliência” é uma palavra em voga. Aparece com frequência em palestras motivacionais, discursos corporativos e posts inspiradores nas redes sociais. Costuma ilustrar exemplos como: enfrentar o desemprego com serenidade, reconstruir uma empresa em tempos de crise, sustentar um relacionamento em meio às turbulências da vida, ou ensinar às crianças a lidar com frustrações. Tornou-se, enfim, um termo para designar a capacidade de suportar e se reinventar.


Outro dia, porém, encontrei uma frase que me tocou de maneira especial: “A resiliência das flores que brotam no asfalto é o símbolo mais bonito da esperança humana.”


A imagem me fez pensar no quanto a natureza expressa essa ideia com perfeição. Depois da seca, do outono ou da neve, a vegetação sempre retorna. É um ciclo silencioso de renascimento, uma lição que se repete ano após ano — e que talvez seja a forma mais pura de resiliência que existe.


Essa reflexão me levou a associar o tema àquela crença popular do inferno astral, o período anterior ao aniversário em que, dizem, tudo parece desandar. São dias em que os imprevistos se acumulam, a energia pesa, o ânimo se esvai. É como se o terreno interno secasse: uma paisagem árida, desidratada de corpo e alma. Ainda assim, mesmo nesse deserto, algo em nós insiste em esperar pela chuva — um traço persistente de vida que resiste ao desânimo e prepara o terreno para o recomeço.


Nesses momentos de desalento, lembro-me da composição de Sérgio Britto, eternizada pelos Titãs, que resume com simplicidade essa força de renascer:


Quando não houver esperança Quando não restar nem ilusão Ainda há de haver esperança Em cada um de nós, algo de uma criança Enquanto houver sol.


Talvez seja isso: a verdadeira resiliência não está em resistir sem se abalar, mas em manter acesa, mesmo que tênue, a chama que nos permite florescer outra vez — mesmo sobre o asfalto.

 

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