O choro é uma experiência imprecisa e variada, um poderoso instrumento de comunicação humana. De acordo com a análise de antropólogos e historiadores, as manifestações afetivas por meio das lágrimas não são constantes, mas mutáveis, historicamente nômades e culturalmente inventadas.
Aos homens, na Grécia antiga, era permitido chorar – mas, entre as mulheres, tal gesto não era bem-visto. A expressão dos sentimentos, para os gregos, era uma atitude masculina.
No período medieval, dar gargalhadas e chorar eram hábitos sociais aceitos tanto entre homens como entre mulheres. Já no período Vitoriano teve início um processo civilizador e de disciplinamento desses hábitos. As lágrimas ficaram restritas à intimidade de cada um. Como curiosidade, vale lembrar que as chamadas “carpideiras” datam dessa época, atuando como como substitutas das elites aristocráticas, para quem não era de bom tom chorar em público, mesmo que no enterro de um filho.
Já no século XX, num contra fluxo às repressões vitorianas, ganhou força o processo de liberação das emoções em público. Especialmente em países de cultura latina, como é o caso do Brasil e do México, porém, o choro ganhou uma conotação feminina. Virou “coisa de mulher”. Os garotos aprenderam desde cedo que “homem não chora” e que “chorar é sinônimo de fraqueza”.
O antropólogo Guillermo Ruben tem uma análise interessante sobre o assunto. Segundo ele, o hábito dos homens mexicanos, em momentos de profunda tristeza amorosa, se embebedarem e se juntarem aos Mariachis – não propriamente para chorar, mas para cantar canções de lamento, vem desse policiamento cultural. Mutatis mutandis, o avanço, entre os jovens brasileiros, do gosto pela música sertaneja de Sofrência, consagrada por Marilia Mendonça, é um retrato dessa necessidade de expressar o choro masculino, mesmo que seja por meio de canções.
Sejam masculinas ou femininas, as lágrimas emocionais se manifestam em diferentes contextos e assumem significados diversos. Lágrimas de heroísmo, em momentos de grande comoção pela coragem de alguém que se admira. De frustração, como as lágrimas coletivas dos milhares de brasileiros quando nossa Seleção perdeu em casa para a Alemanha, de sete gols a zero. De tristeza, pela certeza de que nunca mais teremos o calor do abraço de uma pessoa querida. De alívio, quando nos sentimos à beira do abismo e conseguimos escapar. De alegria, nos reencontros, nos momentos românticos, na redenção que se segue à reconquista de uma amizade perdida, no sucesso de um empreendimento pessoal.
Mas não existe alegria maior do que essa, cantada pelo nosso poeta eterno, Vinícius de Morais
“Pois a maior alegria É chorar de parceria Num chorinho que é só coração E relembrar que o passado Vive num choro chorado Pelo teu e o meu violão”
Da vontade de chorar perante um texto tão fluido, informativo e poético. Lindo! GP