Uma das sensações desagradáveis para a maioria de nós é saber que não completamos alguma coisa que nos propusemos a fazer. É o caso daquele artigo que estávamos escrevendo e ficou inacabado, rolando na mesa de lá para cá; dos livros que deixamos empoeirando na estante com o marcador no meio; da arrumação dos armários que ficou pelo meio; de retornar os contatos com aqueles amigos antigos que nos procuraram, ou mesmo de fechar aquela conversa difícil com alguém, que deixamos sem concluir.
Alguns resistem, se recusam a aceitar uma desistência. Encaram o incompleto como uma procrastinação que, a princípio, seria um crime menor. Colocam tudo em uma caixinha mental de pendências e deixam lá ad eternum. Se, por acaso, elas escapam e mandam um recadinho incômodo, imediatamente recorrem ao mecanismo de consolo, com a escusa de que faltou tempo, mas não está esquecido. São pessoas do tipo Autoindulgentes.
Outros persistem no erro, pois não encaram de forma alguma a possibilidade de um fracasso. Deixam em suspenso aquilo que não levaram adiante, e se recusam a admitir que não vão completar. Dia sim, outro também, reviram no estômago suas incompletudes e se propõe a retomar e terminar. Não conseguem, lógico, e, aí, a gastrite agradece. Esses são adeptos do Autoflagelo.
E há um terceiro tipo, aqueles que encaram de frente o fato de não conseguirem ou não quererem finalizar aquilo que iniciaram. São capazes de reconhecer, por exemplo, que se precipitaram ao imaginar que teriam tempo para a atividade e não tinham, ou que simplesmente não gostam de fazer aquilo, portanto não faria sentido ir até o fim. Dão por encerrado o incompleto e, para eles, essa é a completude. Parar no meio sem terminar não lhes causa angústia, porque admitem falhas. Seguem em frente, tranquilamente, sem culpa, sem auto cobranças, livres, leves e soltos.
Esses, sinceramente, são Semideuses.
Aqui, fechando o texto, me pergunto: — E eu, onde me encaixo? posso dizer que estou bem longe do Olimpo
Certamente tipo 1.