Hoje tentei escrever um texto usando uma linguagem que pudesse conversar melhor com uma grande parte dos escritores contemporâneos, em especial os brasileiros.
Ensaiei, fiz um parágrafo, apaguei - ficou ridículo. Comecei novamente, tentando mudar o tema, talvez fosse uma dissonância entre a linguagem pretendida e o tema – nada feito. Fui colecionando versões cada vez mais desastrosas, mesmo depois de uma ampla pesquisa e estudo da produção de autores que dominavam essa veia literária com sucesso.
Engolindo minha derrota com aquele travo de fruta azeda na garganta, fui à procura de uma razão para não conseguir salpicar em meus textos uma sequência de palavrões, de inserir descrições cruas ou mesmo cruéis de atos ou violências sexuais, ou mesmo de descrever de maneira explicita adventos fisiológicos com riqueza de detalhes, mesmo que recheadas de humor. Por que motivo isso não brota, e mesmo que saia a forceps, usar esses recursos tão populares hoje em dia, no meu texto soam falsos?
Recorri aos universitários e aí me deparei com a questão do lugar de fala. Levei um tempo para entender o uso da expressão nesse contexto, pois até aí só conhecia o termo, utilizado por autores como Foucault para falar da relação de poder presente em diferentes discursos, ou, no sentido usado por Djamila Ribeiro, para explicar o lugar social ocupado pelos diferentes sujeitos em uma matriz de dominação.
Na minha pesquisa, aos poucos comecei a ver o termo sendo utilizado em críticas a autores que escreviam sem a articulação específica de uma fala com aquela situação com que se relaciona. Por exemplo, eu que sou paulista, que nunca vivi nem me enfronhei no linguajar das pessoas do nordeste, de fosse escrever como um deles iria soar falso, sem dúvida.
Lugar de fala, do ponto de vista literário, portanto, seria o pertencimento a um determinado contexto social que se pretende representar, seja na linguagem, seja na criação do personagem, ou ainda na própria situação que se quer retratar.
E o que tem isso a ver comigo no bloqueio de uma linguagem diríamos, mais popular?
Tudo a ver... não me familiarizei com essa linguagem ao longo da vida, não aprendi, não usei, não me pertence, ou seja, não tenho lugar de fala que permita escrever assim, portanto nem adianta tentar. Ufa!
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