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Manteiga ou margarina?

Sempre tive aversão a manteiga. Desde a infância aquele tablete meloso e gorduroso colocado em um recipiente de vidro com tampa, invariavelmente lambuzada porque essa criatura ia se espalhando pelos cantos, me dava engulhos.


Para meu desespero ela ocupava lugar de honra na mesa do café da manhã e era compartilhada por todos, menos eu, em nacos enormes em cima do pão francês.

- Menina estranha, comentavam, quem sabe se a gente oferecer margarina ela não prefira?

Só aventar essa possibilidade já me dava vontade de sair da mesa – margarina, para mim, era a versão tabajara da minha desafeta, algo inventado por alguma mente pervertida.


Ocorre que em determinadas situações fora de casa eu me via, inúmeras vezes, obrigada a aceitar o famoso pão com manteiga que me ofereciam, não só por cerimônia, mas também porque na maioria dos casos ele já vinha pronto para a mesa.


Em outras, me vinham com a pergunta: manteiga ou margarina? Ou seja, não havia a terceira opção – nenhuma das duas. Era, então, obrigada a optar pelo menos péssimo, no caso a manteiga, mesmo que isso me desse ânsias de vômito.


Essa encruzilhada gastronômica da infância me fez lembrar que, na vida, somos constantemente obrigados a optar pelo menos ruim, também. Isso serve para decisões prosaicas como escolher a mesa de fora em um restaurante e enfrentar o frio, ou ficar nas mesas de dentro ao lado do piano e ter dificuldade para conversar.


Serve também para o cinema: poltronas da ponta para poder entrar e sair com mais facilidade, mas com menor visibilidade, ou no meio da fila, com vista panorâmica, mas no meio de duas pessoas comendo pipoca?.


Pensando um pouco mais a fundo, muitas vezes nos vemos frente a esse dilema na hora da decisão sobre quem serão nossos dirigentes, ou do apoio que daremos a uma ou outra corrente política, do partido que tomamos frente aos conflitos mundiais e assim por diante. Infelizmente muitas de nossas escolhas dependem de colocarmos na balança não o que é melhor, mas o que é menos ruim... e aí a consequência gastro- econômico- social pode ser pior do que engolir margarina, não acham?

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