O dia vai ser corrido, pensou Naldinha. Depois de deixar as crianças na escola tenho que fazer aquela mega compra de mercado, porque não temos mais nada em casa. Só de pensar já me dá preguiça... supermercado grande, aquele perrengue. Para piorar, está chovendo e o estacionamento coberto vai estar lotado. Mas...vamos lá, coragem!
Não deu outra: teve que parar no estacionamento externo e tinha esquecido o guarda-chuva. Como resultado, saiu correndo e pisou em todas as poças d’água; pegou um carrinho molhado, e só conseguiu encontrar daqueles pequenos disponíveis. Não bastasse, logo ao entrar viu uma multidão se acotovelando e filas intermináveis nos caixas.
Resignada, começou a romaria. Abriu a bolsa para pegar a listinha que tinha feito, não estava lá. Tudo bem, pensou, já sei de cabeça o que preciso comprar e conheço bem a disposição dos produtos nesse supermercado. Iniciou, então, o percurso pelas gôndolas onde, na usa inocência, achava que estariam os produtos, como sempre estiveram.
Surpresa!!! Teve a impressão de que havia passado um tufão e desorganizado completamente o layout do estabelecimento. Para achar um simples pacote de guardanapos, que antes estava junto com o papel higiênico, logo na primeira gôndola do lado esquerdo, perto dos descartáveis, teve que percorrer as vinte gôndolas à sua procura. Ele devia ter se cansado da companhia, pois havia mudado para perto da ração e brinquedinhos para pets, que ficavam no último corredor.
Rodopiando por entre a multidão, num entra e sai pelos corredores tentando entender a nova lógica de colocação dos produtos, Naldinha encheu seu pequeno carrinho; teve que guardar esse e buscar mais um para terminar as compras.
Pelo menos isso se mantivera como antes – um lugar para guardar aqueles que já estavam cheios. O segundo lote de compras foi um pouco mais difícil de conseguir, pois sabia que já havia percorrido todos os corredores e nem sombra desses últimos itens. Os pés cansados, a paciência já bem pela metade, mas, perseverante, fez toda a peregrinação novamente.
Apesar de ter esquecido a lista, o que já nem a afetava mais, pois fazia parte das suas costumeiras distrações, deu por terminado o serviço e se colocou na fila do caixa. A que estava com menos fila era uma das últimas.
Passado esse primeiro lote, disse à simpática menina do caixa que iria buscar o outro carrinho que estava guardado, e lá se foi, abrindo espaço pela multidão que formava fila nos outros caixas.
Vinha de volta com o carrinho, já exausta, as filas aumentando cada vez mais. Quando se deparou com o caixa vazio deu um suspiro de alívio e pensou – ainda bem que já tinha começado a passar minhas compras.
Rapidamente terminou essa operação e o rapaz do caixa fechou a conta. Nesse momento, a primeira reação de Naldinha foi de alegria: Nossa, ficou bem mais barato do que tinha imaginado, que ótimo! Mas, um pequeno engasgo na garganta prenunciava que algo errado estava acontecendo. Olhou para os produtos que estavam sendo embalados e estranhou: Onde estão os ovos? Tenho certeza de que comprei...
Nesse exato momento, divisou, ao final do corredor, uma moça, de boca aberta, fazia sinais – era lá o caixa em que havia passado o primeiro lote de compras.