Recentemente assisti “As Flores Perdidas de Alice Hart”, uma série australiana baseada no livro homônimo de Holly Ringland, com uma bela interpretação da atriz norte-americana Sigourney Weaver no papel de June Hart.
Embora a narrativa contemple vários temas e discussões importantes e dramáticas que envolvem a vida de Alice Hart e sua família, na entrada da primavera esse seriado me fez refletir sobre a linguagem das flores. Elas têm o poder de transmitir aquilo que vai além das palavras, o que gostaríamos de dizer, mas é mais amplo, profundo, complexo, do que o nosso vocabulário permite.
Gosto de cultivar flores em vasos, observar aquele início de botão que vai se criando na ponta de um galho e, a cada manhã, me deliciar com seu desabrochar – algumas se abrem com uma explosão, da noite para o dia; outras vão se desnudando em movimentos suaves a cada a brisa e orvalho que recebem.
Voltando aos Jardins de Alice Hart, me chamou a atenção a importância da combinação das flores quando se monta um vaso ou um buque. Sua composição deve ser cuidadosa, pois é como uma frase cujo significado será captado de forma totalmente sensorial por quem está no ambiente. Nunca tinha atinado para a potência dessa linguagem, além daquelas conhecidas relações entre as rosas vermelhas e a paixão, os lírios brancos e a paz, por exemplo.
Me atrevi, então, a pensar num arranjo de flores para uma conversa ao redor da mesa, que prenunciava uma tempestade entre as mulheres presentes. Estudei o significado de cada espécie, e fui buscar aquelas que compusessem a mensagem que eu gostaria de passar nesse encontro.
Escolhi um vaso transparente e iniciei a montagem pelo núcleo central. Para ele escolhi uma Orquídea Lilás, como símbolo da maturidade altiva, indomável, porém delicada, da personalidade do grupo.
Distribui por todo o vaso Ásters lilás, que, na mitologia, eram colocadas nos altares dos deuses pelo seu formato de estrela. Suas pontas despertariam a capacidade de elevar os pensamentos do grupo com a sabedoria e brilho necessários para que a conversa fluísse num clima de paz e harmonia.
Para finalizar, fui entremeando com Gerberas amarelas que purificam o ar e irradiam energia positiva, para lembrar a todas a beleza da vida, da natureza e que há sempre novos começos possíveis.
Como as de June Hart, minhas flores falaram mais do que mil palavras.
Ana Helena Reis mostra toda a sua cuidadosa sutileza ao escrever sobre o sussurro das flores. Uma sutileza que a distingue entre tantos escritores, e a coloca num patamar mais perto do sol. Bravo!!! G.P.