Ponto de ônibus, seis da tarde.
— Não quero, obrigada.
— Só pra me ajudar... preciso levar algum dinheiro para casa hoje.
— Não estou precisando de pano de prato, menino.
— Tá legal, mas sempre um a mais é bom. E tem o pessoal que mora com a senhora, né?
— Não, garoto, vivo sozinha. Olha, seus panos de prato são muito bonitos, mas já tenho os que preciso.
— Olha só, se gostou poderia dar de presente para alguém.
— Não quero dar presente para ninguém.
— Por que não? Minha mãe é quem faz e eu trago para vender. Aí poderia ajudar a gente, e todo mundo fica feliz, né?
— É verdade, mas não tenho para quem dar de presente.
— Não tem amigos?
— Não.
— Nossa, que triste... todo mundo tem amigos. Eu mesmo tenho meus amigos da escola, lá da rua...
— Quando você tiver a minha idade, vai ver que não é assim. Aos poucos eles te esquecem e você acaba sozinho.
— Sei não...mas a senhora deve ser uma boa pessoa, tá até conversando comigo...
— E nem sei por que estou conversando com você, não gosto de conversa.
— Ah! Taí, é por isso que os amigos fugiram, não conversou bastante com eles.
— Não tinha nada mais para falar.
— Uai, podia ter dito só que queria continuar amiga. Eu faço isso quando brigo com um amigo.
— Você é bem insistente, não? Não briguei com ninguém.
— Então por que eles não são mais seus amigos?
— Sei lá...
— Por que não pergunta pra eles?
— (...)
— Ainda bem que o ônibus está chegando, assim você para com essas perguntas.
— E os panos de prato? Não vai levar mesmo?
— Da próxima vez eu levo, vamos combinar assim?
— Beleza! Tô aqui todos os dias depois da escola. E agora a senhora já tem um amigo, né?
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