O número de celulares ativos no Brasil já ultrapassou a marca de 242 milhões de aparelhos. Se considerarmos uma população de um pouco de 214 milhões de habitantes, (IBGE-2023), veremos que o número de aparelhos já ultrapassou a marca de 1 aparelho por habitante. Com isso, no ranking mundial de usuários desse equipamento, hoje somos o 5º país.
Quando, em 1974, o ex-funcionário da Motorola Martin Cooper apresentou ao mundo o primeiro celular, um Motorola DynaTAC, creio que poucas pessoas poderiam prever, a não ser pelos desenhos de ficção, o rumo que esse equipamento iria tomar.
Os usos e finalidades dos aparelhos inteligentes ou smartphones cresceram e se diversificaram de forma espantosa nos últimos anos. Hoje podemos sair de casa sem documentos de identificação, sem levar jornais ou revistas, a agenda de compromissos ou o mapa viário. Deixar em casa a carteira, os cartões de crédito, a carteira de motorista, e mesmo o certificado do veículo; ter acesso virtual à conta bancária, à apólice de seguro de vida, do carro e da casa, nossa identificação para o plano de saúde, enfim, tudo o que se possa imaginar em termos de serviços. Assim, se estivermos com o nosso celular não precisamos de mais nada. Não é para menos, portanto, que nos deparamos com pessoas com ele na mão a cada esquina. Uma grande parte delas, inclusive, mesmo que estejam em movimento, a pé ou de caro ou em um transporte público, teclando alguma mensagem.
Muitos estudos relatam os problemas da chamada Nomofobia (dependência do telefone celular). As taxas estimadas de dependência do celular podem chegar até a 60% de seus usuários. Gostaria, porém, de tratar de um tema pouco desenvolvido quando se trata dos usos desses aparelhos, e que vem me chamando a atenção. Acho que nos esquecemos de que o celular é um meio de comunicação oral. Seja por meio de mensagens de voz, seja para fazer uma ligação telefônica.
O que tenho notado é que essa função original do celular se tornou uma válvula de escape para o tédio, principalmente para alguns perfis de pessoas que, na sua atividade profissional, ficam por horas a fio praticamente inativas, à espera de alguma ocorrência que mereça sua atuação. Só para citar alguns deles, porteiros e vigias de edifícios, seguranças, atendentes e vendedores em estabelecimentos comerciais, taxistas, plantonistas, entre outros.
Para essas pessoas, poder falar com a família, jogar conversa fora com os amigos ou quem quer que seja durante horas e horas afasta o sono, distrai e faz o tempo passar mais rápido. Nesse sentido, o celular tem uma utilidade que, a meu ver, é muito pouco valorizada. É uma ferramenta que torna aquelas horas de trabalho sem atividade, muitas vezes noturna, um pouco menos solitárias. Basta passar por uma guarita, entrar na recepção de um edifício ou em uma repartição pública para constatar esse fato.
Tudo ótimo, se não fosse uma curiosidade que me intriga – sobre o que falam? Qual o assunto que dá margem a ficar animadamente conversando horas a fio?
Pergunto por que nem nos meus dias de maior eloquência consegui estender uma conversa por mais de meia hora ao telefone... Será que está me faltando repertório?
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