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Rio abaixo...

  • Foto do escritor: Ana Helena Reis
    Ana Helena Reis
  • 4 de ago.
  • 2 min de leitura
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Reconectar, rever, retomar a amizade – foi o mantra de Clô ao receber o convite para a festa dos 40 anos de formatura. Quarenta! Ela leu a lista de colegas com um sorriso nostálgico no rosto e um pensamento ligeiramente suspeito: "Que tempos maravilhosos... mais ríamos do que estudávamos, e ainda assim conseguimos o diploma! Milagre puro. Laís, Marina e eu éramos uma trinca imbatível!" 


Sabiam tudo da vida uma da outra – inclusive os detalhes mais cabeludos. Só que a vida, essa bagunceira, foi jogando cada uma para um lado."Como estarão agora? Bonitinhas, como éramos? Ou detonadas pelo tempo, como todo mundo?"


Aí veio o pânico, aquele clássico pânico feminino com data marcada.Dois meses até o evento. Tempo suficiente para virar uma versão 2025 de si mesma – sem filtro, sem Photoshop, ao vivo e em HD.

Missão Clotilde em modo turbo:

-Reforçou a academia (alô, personal trainer);

-Clareamento nos dentes (tchau, café e vinho);

-Mechas loiras (tom “iluminada e despreocupada”);

-Botox e uma esticadinha nas pálpebras (cirurgia rápida, que ninguém precisa saber);

-Harmonização facial? Quase. Mas faltou coragem. Ainda bem.


Chegou ao evento com a autoestima no volume máximo. O espaço era charmoso, mesas e sofás espalhados, vibe “sunset de senhora elegante”. E lá estavam elas: Marina e Laís. Reconhecíveis, porém... um pouco vencidas pelo prazo de validade. "Gastei horrores pra nada. Estão caidinhas. Ufa!" Mas Clô era educada. E disfarçava bem.


Abraços, beijinhos, aquela conversa-padrão de reencontro:

“Casou?”

“Tem filhos?”

“Trabalha ainda?”

“Mora onde?”

“E seus pais, vivos?”

Checklist da vida em andamento. Logo vieram umas lembranças – aquelas piadas internas que antes causavam ataques de riso e agora só rendiam sorrisos educados.


A festa seguia animada: bebida boa, DJ animado, comida de primeira... tudo propício ao tal reencontro inesquecível. Menos... na mesa de Clô.Ali, o silêncio começou a pesar como prataria herdada. Ela olhou para as “meninas” e viu... duas estranhas. Nada da antiga conexão, nenhuma faísca do trio explosivo que um dia foram.

Sem rodeios, soltou:— Gente... que tal dar uma voltinha por aí?


Levantou-se, ajeitou o vestido, ergueu o queixo renovado pelo botox e, ao dar o primeiro passo, lembrou de uma frase que leu num cartão postal ou num biscoito da sorte, sei lá: "O rio nunca passa duas vezes no mesmo lugar."

E, naquele momento, ela achou a metáfora perfeita. Para as amigas, para a noite, para a vida.

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