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Arrimo de família

  • Foto do escritor: Ana Helena Reis
    Ana Helena Reis
  • 6 de ago.
  • 1 min de leitura

Atualizado: 6 de ago.


Noite fria, sombria, quieta.

Ele, calado, encolhido, matutando.

Eu, na espreita, alerta, sentinela.

Nós, famintos, sedentos, enjeitados.


Olhos remelentos, úmidos, arregalados.

Corpos esquálidos, caquéticos, patéticos.

Dentes que bambeiam, rareiam, vadios.

Garrafa vazia, gamela vazada.


Burburinho no beco, grupinho do boteco.

Garotada excitada, bebida exagerada.

Sanduba na mão, churrasco no pão.

Passo apressado, casaco amarrado.


Rota traçada, calçada apertada.

Molecada bloqueada, assustada

Carroça encostada, coberta rasgada.

Ele apagado, encolhido, deitado.

Eu agitado, pescoço esticado.


Abano o rabo, procuro um afago.

Vira-lata esfaimado, tá necessitado.

Não tem culpa, merece um sanduba.

Comida de gente, pro cão indigente.

Acordo o parceiro, meeiro, hospedeiro.

Cão de mendigo, pão repartido.


Aninho, carinho, comunhão.

Vida de rua, verdade nua e crua.

Entre um cão mendigo e um mendigo no chão.

O que abana o rabo é que garante o pão.


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1 comentário

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Convidado:
07 de ago.
Avaliado com 5 de 5 estrelas.

"Cão de mendigo, pão repartido". Maravilhoso

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