Casa mia
- Ana Helena Reis
- 28 de jun. de 2024
- 2 min de leitura
Atualizado: 29 de jun. de 2024
A nossa casa é onde a gente está
A nossa casa é em todo lugar
Arnaldo Antunes
Nos últimos cinco anos mudei seis vezes de moradia. Fato talvez corriqueiro para quem tem o hábito de fazer esse tipo de movimento com frequência, mas não para mim, que não havia feito mais do que três mudanças ao longo dos outros quase setenta anos.
Escolhi o que ia comigo, pois tudo o que tinha acumulado ao longo de tantos anos não caberia nesses ambientes transitórios. Separei o que ia guardar em um Storage e a vida coube dentro de poucas malas. Montei diferentes apartamentos com os escolhidos, de uma forma quase intuitiva: móveis e objetos que diziam algo a respeito de mim, que me representavam.
Os motivos de tantas idas e vindas não vêm ao caso, mas a procura do meu lugar, do espaço em que eu queria me estabelecer e sossegar foi o grande impulsionador da vida nômade nesse período de grandes transformações pessoais.
Encontrei, finalmente, onde queria estar e em aquietei. Vesti o meu lugar e descartei de forma definitiva tudo o que percebi que não me constituía, não me identificava, o que já tinha até me esquecido que existia – esvaziei o Storage e as recordações que só me fariam criar teias de aranha emocionais.
Quase como uma mágica, tudo o que hoje habita o meu espaço parece que já estava destinado a ele. Mas, pensando um pouco, da mesma forma também harmonizavam nos outros ambientes que me acompanharam durante a transição, mutantes como se fossem pecinhas que permitem diferentes combinações resultando em um mesmo desenho.
Ao me perguntar sobre como essas combinações foram capazes de formar um desenho que me aconchegou em todas as diferentes moradias por que passei, me dei conta de que a minha casa é onde quer eu eu esteja, a minha casa é em todo lugar, pois ela está dentro de mim.
Eita mulher que escreve bem! Palmas pela Casa mia! Palmas. G.P.