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Dias quase perfeitos

  • Foto do escritor: Ana Helena Reis
    Ana Helena Reis
  • 15 de jun. de 2024
  • 2 min de leitura

Ontem assisti Perfect Days , uma coprodução entre o Japão e a Alemanha lançado em 2023, estrelado por Kōji Yakusho no papel de um limpador de banheiros. O filme ganhou à Palma de Ouro no Festival de Cinema de Canes 2023, e concorre ao Oscar de melhor filme internacional na edição de 2024.


Independente de um certo esforço de minha parte para entrar no ritmo lento em que se desenrola a trama e a repetição do dia a dia do personagem Hyarama, o filme tem uma mensagem clara que faz refletir: a simplicidade de uma vida “pequena” que por vezes parece claustrofóbica, mas que transmite uma paz interior reconfortante, algo que merece ser alcançado por todos nós. No limite, o filme traduz o conceito de "menos é mais”


Nyarama consegue, nessa vida pequena, voltada para dentro, encontrar algo lúdico naquilo que é banal como escovar os dentes ou colocar uma música para ouvir no carro. E vai além, deixando de lado a procura por grandes realizações, ao se satisfazer simplesmente com uma tarefa bem cumprida, mesmo que ela seja deixar impecáveis os banheiros públicos. E se contenta em ser gentil com as pessoas fazendo disso sua contribuição para o bem-estar do próximo.


O filme me foi particularmente tocante por estar em um momento de transição de uma vida acelerada como profissional, para um momento mais introspectivo, mais contemplativo, em que me permito ter uma rotina livre de obrigações, focada em atividades em que essa questão da valorização do simples, do prazer no que é corriqueiro está muito presente, muito forte.


Por outro lado, a proposta toca em um ponto que considero importante ressaltar. Para viver seus Perfect Days, Nyarama deixa para trás todos os vínculos com a vida passada, incluindo as ligações afetivas e familiares, as possíveis responsabilidades com aqueles que dele dependiam (o que é possível deduzir durante a narrativa).

Fico cá pensando, porém, quanto de utopia existe nessa proposta para quem, hoje, não tem como abrir mão dos chamados “dias úteis”, povoados de estresses, cobranças, horários; aqueles que não podem pensar somente em si mesmos, e deixar para trás os vínculos e obrigações que também fazem parte da vida.


Aí me lembro das pessoas com quem cruzo na rua ao anoitecer, correndo para pegar um ônibus lotado depois de um dia inteiro de trabalho pesado, muitas vezes sem saber como vão pagar as contas no dia seguinte e que, sorridentes, me dizem um banal boa noite.

Sim, elas conseguem transformar seus dias úteis em dias quase perfeitos.

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