Outubro me lembra Halloween, até porque, como uma bruxa legítima, nasci no dia 31 à meia noite. Bruxas, vassouras, abóboras e todas as figuras fantasmagóricas que povoam o imaginário popular são inspiração para as mais diversas fantasias: esqueletos, vampiros, mulas sem cabeça, ao lado de figuras famosas como o Conde Drácula, Morgana, Cruela, Freddy Krueger e outras encarnações do mal.
Para as crianças, 31 de outubro é um dia de alegria, pois significa a possibilidade de comer doces sem nenhum policiamento dos pais, por conta da brincadeira de Trick or Treat. Esse hábito remonta a uma prática celta do Samhain, uma festa que marcava o fim da colheita e o começo do inverno. Daí ohábito de ir de casa em casa pedir uma contribuição em alimentos, hoje adaptada para guloseimas. Reza a lenda que durante a noite do Samhain a fronteira entre o nosso mundo e o outro mundo, o dos mortos, podia ser cruzada e, assim, os espíritos maus vagavam pelaterra. Por esse motivo, os celtas usavam máscaras para não serem reconhecidos, oque deu origem ao seu uso no Halloween.
Esse uso de máscaras como uma forma de esconder a identidade me fez recordarErik, personagem criado pelo escritor Gaston Leroux em seu livro de 1910, e que deu origem ao musical de Sir Andrew Lloyd Webber's The Phantom ofthe Opera, um sucesso que encanta plateias até hoje.
Erik, o fantasma, que usa uma máscara para esconder sua figura deformada, se tornou um símbolo de amores não correspondidos, mas a mensagem dessa história, vai muito além disso. Ela envolve uma batalha interior entre dois aspectos importantes da nossa psiquê: a coragem e o medo, enfrentados pelos protagonistas dessa história. Não é para menos que esse musical atrai o público há muitas gerações.
Do ponto de vista do fantasma, o medo da rejeição exterior muitas vezes nos faz usar uma máscara para esconder traços da nossa verdadeira identidade. Tentamos mascarar aquilo que escancaranossas deformações de caráter, nossos desejos proibidos, nossas falhas, invejas,ódios, frustrações. Acreditamos que ninguém poderá nos amar se tirarmos essa proteção, assim como o Fantasma não conseguia se mostrar à sua amada.
Da parte de Christine, a reflexão é sobre a coragem de escutar sua voz interior e seguir com Erik, seu mentor abrigado nas trevas. Renunciar ao que é fácil, confortável, belo e aceito por todos, representado no musical pela figura de Raoul. Assim como ela, na vida nem sempre conseguimos fazer uma opção pela nossa melhor versão e deixar fluir quem realmente somos, escolher o caminho que não será aplaudido, mas nos fará mais feliz.
Talvez porque, afinal, tirando a máscaratodo mundo é um fantasma, não émesmo?
Boa reflexão! Gostei!