top of page

Palitando...

Outro dia, tive um pesadelo estranho, pois nele vi algo semelhante a palitos de dentes descomunais. Acho que já havia até me esquecido dessa função dos palitos de madeira, além de sua serventia para alguns preparos culinários. Eram palitos enormes, gordos e, o mais estranho, tinham unhas na ponta. Eles carregavam pedaços de carne, couve, cascas de pão e outros detritos meio mastigados, fazendo uma limpeza no que poderia ser uma boca gigante. Acordei de sobressalto e comecei a pensar no quão bizarro foi esse sonho.

O gatilho só pode ter sido uma cena de faxina dentária que vi recentemente num almoço de confraternização. A necessidade de manter os dentes limpos e livres de fiapos sempre existiu e, pelo que andei pesquisando, levou a humanidade a passar maior parte de sua higiene bucal se virando com gravetos, lascas de ossos, espinhos, lascas de bambu, entre outros objetos.

Daí surgiu um salvador da pátria, o palito de dente de madeira, difundido como objeto de higiene bucal em todas as culturas ao redor do mundo, inclusive no Brasil. Aqui na terrinha, uma marca de palitos se tornou famosa — os palitos Gina, criados em 1947 e eternizados, em 1975, na ilustração da embalagem com a foto da modelo muito conhecida na época, Zofia Burk. Apesar do sucesso dos palitos Gina, o palito de dente foi sendo cada vez mais rejeitado pelos odontologistas para a saúde bucal, sendo substituído pela escova e fio dental.

A prática de palitar os dentes em público caiu em desgraça e passou a ser considerada uma tremenda falta de educação, partindo do pressuposto de que ninguém tem que ser obrigado a conhecer os fiapos de comida alheios. Fazendo então o gancho com o meu sonho aterrador, qual foi a brilhante solução encontrada por aqueles que não conseguem esperar até o momento de poder, em particular, usar um fio dental? Sem a mínima cerimônia, enfiar o dedo indicador na boca escancarada, tentando liberar os detritos aprisionados entre os dentes.

Uma cena traumática a que tenho sido exposta constantemente, a ponto de detonar um pesadelo horripilante. Creio que o leitor haverá de concordar comigo nessa constatação: para esse tipo de incontinência higiênica bucal, o palito descartável é a melhor solução. Se usado sempre com a outra mão livre, tapando um pouco a boca para não compartilhar a cena dantesca com os outros convivas, é de um requinte de educação ímpar se comparado ao dedão, que melhor nem pensar para o que será usado depois.

Por isso mesmo, proponho a redenção do palito e sua presença novamente nas mesas dos restaurantes e bares e, por que não, nas nossas casas de família, quando recebemos visitas. Dependendo do ambiente, podem ser até palitos sofisticados, personalizados, ocupando um espaço ali com os guardanapos de cada convidado, pois o uso do dedão na boca está presente em todos os ambientes, do mais simples ao da dita realeza social. Penso até em convidar a modelo Zofia Burk, agora com 75 anos, para ser a madrinha de uma campanha de revitalização do palito.

Isso pode ser motivo para um próximo pesadelo, mas estou apostando no sucesso da minha iniciativa, pensando até em um crowdfunding para ter maior penetração na ala jovem. O que acham?


18 visualizações

Posts recentes

Ver tudo

コメント

5つ星のうち0と評価されています。
まだ評価がありません

評価を追加
Publicações
bottom of page